10 de mai. de 2011

Celebrando a Graça Criacional da Arte

Hans Rookmaaker: Celebrando a Graça Criacional da Arte
Dr. Taylor Worley é Professor Adjunto de Pensamento e Tradição Cristãos e Reitor Adjunto para Vida Espiritual na Union University.


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Francis Schaeffer talvez seja o nome mais comumente associado com a tradição neocalvinista e o engajamento cultural. Mas o comentário de Schaeffer sobre arte e cultura jamais teria alcançado o nível de influência ou respeito que alcançou sem a inestimável percepção artístico-histórica-cultural e a amizade de Hans Rookmaaker. Além de ter sido um contínuo recurso para o movimento L’Abri, Rookmaaker se mostrou indispensável para o mais amplo projeto de engajamento do cristianismo com os corações. Seu treinamento como historiador de arte e a rigorosa percepção de seu trabalho conferiram credibilidade ao projeto de Schaeffer, o qual teria sido prejudicado grandemente sem ele. Essa influência continua até hoje através do impacto de seu livro A Arte Moderna e a Morte de uma Cultura, uma obra altamente influente e bem-sucedida em termos de vendas e que tem sido um guia por gerações.

Nesse livro, Rookmaaker faz uma corajosa afirmação da arte como parte integral da criação de Deus. Seguindo as vozes seminais do pensamento neocalvinista, ele reconhece que Deus governa e sustenta toda a criação através de ordenanças divinas; ele afirma que cada esfera da vida tem seu próprio conjunto de ordenanças e possui uma soberania que não deve ser violada pela soberania de outra esfera. Devido a essa graça criacional, Rookmaaker insistia que “a arte não precisa de justificativa.”

Assim, a arte deve abrir os olhos das pessoas, ou servir como decoração, ou louvor, ou ter uma função social, ou expressar uma filosofia em particular. A arte não precisa de desculpas. Ela possui seu próprio significado que não precisa ser explicado, assim como o casamento ou o próprio ser humano, ou a existência de um pássaro ou flor ou montanha ou mar ou estrela. Todos eles detém um significado porque Deus os criou. Seu significado é que foram criados por Deus e são por Ele sustentados. Assim, a arte tem sentido como arte porque Deus considerou bom dar arte e beleza à humanidade. [1]

A celebração da graça criacional da arte por Rookmaaker deriva de sua alegria, não de seu desprezo, pelos detalhes artístico-históricos de uma obra. Dessa forma, ele representa uma voz singular no importante diálogo entre o cristianismo e as artes. De maneira específica, sua fé na graça criacional da arte significou muito para gerações inteiras de cristãos em busca de um valor fundamental com o qual embasar seu apreço pelas artes.

Juntamente com outra linha dominante da reflexão cristã sobre a arte moderna, a natureza distinta da abordagem de Rookmaaker entra em foco. Paul Tillich e outros importantes herdeiros de seu legado também deram atenção a figuras-chaves na arte moderna, mas sua abordagem dessas obras demonstra uma perspectiva muito diferente da de Rookmaaker. Na abordagem da Tillich à uma teologia da cultura, o “método de correlação” busca identificar os impulsos religiosos de uma forma de cultura e abordar esses impulsos em seus próprios termos. Infelizmente, essa abordagem frequentemente resultou na embaraçosa prática de Tillich de incluir suas visões existencialistas em uma obra de arte, como no caso de seus comentários sobre Guernica de Picasso.[2] Se por um lado Tillich buscou estabelecer um suposto espaço neutro para a consideração das obras de arte, a visão de Rookmaaker não tinha lugar para essas ilusões. Seu profundo compromisso com a graça criacional da arte significava que Rookmaaker jamais poderia divorciar a apreciação estética de uma obra da sua afirmação básica ou negação da glória de Deus na criação. Enquanto esse compromisso na maioria das vezes gerava uma tendência em Schaeffer à pronta crítica de obras de arte não-cristãs, a profunda apreciação de Rookmaaker pela arte de obras claramente antagônicas ao cristianismo serviam como um corretivo sutil à atitude áspera de seus colegas. Mesmo em A Arte Moderna e a Morte de uma Cultura, ele consegue discutir obras de valor religioso conflitantes com impressionante mutualidade.

Dessa forma, Rookmaaker foi prova viva – um exemplo muito presente – do que o neocalvinismo buscava na nova geração, notadamente, um cristão que desejasse tanto pensar rigorosamente quanto cristãmente sobre o campo primário da cultura em que viviam. Seus interesses e obra se expandiram além da arte visual para várias outras esferas culturais; isso é bem representado na maravilhosa edição de seis volumes de sua obra completa, compilada por sua filha Marleen Hengelaar-Rookmaaker. [3] Seu exemplo preparou o caminho para essa próxima geração: Calvin Seerveld, Nicholas Wolterstorff, William Dyrness, Adrienne Chaplin, Jeremy Begbie, Makoto Fujimara e Daniel Siedell – junto com as importantes vozes que escrevem essa série de artigos online – de alguma forma reconhecem a influência generativa que Rookmaaker teve sobre suas carreiras no engajamento cristão com os corações.

De muitas maneiras, o legado de qualquer pensador pode ser medido pelas opções que essa pessoa oferece àqueles que virão depois, e muitas avenidas de exploração reflexiva nas artes foram abertas para nós através do trabalho de Hans Rookmaaker.

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[1] H. R. Rookmaaker, Modern Art and the Death of a Culture, 2nd ed. (Londres: Inter-Varsity Press, 1973), 229-30.
[2] Cf. “Masterpieces of Religious Art” in Paul Tillich, Jane Dillenberger, e John Dillenberger, On Art and Architecture (Nova Iorque: Crossroad, 1987), 233.
[3] Hans R. Rookmaaker e Marleen Hengelaar-Rookmaaker ed., The Complete Works of Hans Rookmaaker, 6 Vols. (Carlisle: Piquant, 2002)


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Traduzido a partir do original em inglês por Fernando Guarany Jr [Coordenador de Traduções e Membro da L'Abrarte] .

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