11 de jun. de 2010

Quanto vale a Alma do João?

Por Marco Alcantara

Já ouvi muitas vezes que uma alma vale mais que o mundo inteiro, também ouvi muitos “Jesus Te Ama” por ai, mas quanto será que vale a alma do João?

Antes que me responda que não tem preço e que Jesus o quer de qualquer maneira de acordo com o discurso evangelizador padrão, deixe que eu diga quem é o João.

João está preso hoje e só cumprirá alguns anos de reclusão por seus crimes. João sodomizou 17 crianças matou nove e o restante adquiriu o vírus do HIV (AIDS). João também era praticante de alguns atos canibais. Pense algumas crianças nunca se recuperarão dos seus traumas, assim como pais que almejavam um futuro para seus filhos estão agora inconsoláveis.

João é execrável para qualquer pessoa que tenha sangue quente nas veias. Hoje ele é estuprado, agredido e punido constantemente por todos os outros companheiros de presídio. Se isso é a justiça que lhe cabe não sei.

Uma vez João foi entrevistado e o repórter não conseguia esconder sua revolta e até mesmo o nojo perante João. Numa das respostas João disse que quando criança freqüentava uma pequena igreja onde não se via mulheres de roupas justas, homens na maioria de terno e vários outros costumes e tradições que se mantinham. Mas mesmo na igreja ele sentia o desejo por sexo com outros garotos de sua idade. Mas como tinha certeza e como era pregado maciçamente que o sexo era pecado e o não ao sexo era à base de toda santidade que um dia ele poderia sonhar ter ele ficou envergonhado de falar sobre com qualquer membro da igreja.

Ele tinha certeza que toda a sua libido sexual iria passar com o tempo, mas não passou, só cresceu e se deformou.

Ele sabia que se falasse abertamente sobre sexo na igreja logo seria repreendido com um sonoro “isso é pecado”, mas o porquê de ser pecado ele nunca iria saber. Seria igual a uma criança teimosa que somente ouve um não para os dedos que quer colocar na tomada, mas nunca sabe o porquê do não. Nunca saberia se realmente aquilo seria mal para ele ou se existiria um meio termo só sabia que existia um não e aquele não parecia mais um desafio para ser ultrapassado do que uma preocupação verdadeira com ele. O não era uma fronteira assim como o pecado sem por que. Uma fronteira que ele queria ultrapassar para simplesmente saber o que havia do outro lado.

As proibições inexplicáveis tomaram uma forma negativa em sua mente. Ele sabia que se conversasse com quem quer que fosse com certeza fariam com que ele se sentisse pior. Seria condenado a orar como se fosse um castigo dos seus pecados ou por pensar em pecar, seria agressivamente instigado a saber que Jesus o ama que vai limpa-lo, seria orientado a deixar o louvor de sua igreja e todos os cargos que ele cumpria com prazer de servir. Sabia que não seria entendido e se fosse ouvido todo entendimento seria distorcido por mentes puritanas que só faria com que pesasse mais o que lhe atormentava.

João só conhecia um lugar de crime e castigo ou de bondade e recompensa. Sabia que existia um céu para os bons e que os meninos maus iriam para o inferno. Sabia dos apontamentos, sabia de como seria olhado de forma diferente, sabia que a preocupação maior era de ter mais membros, de cantar melhor os hinos, de arrecadar mais dizimos e assim mostrar o crescimento de sua igreja para todo o seu bairro. Mas não sabia como nesse sistema ele cresceria também.

João foi além do desejo viu a fronteira e atravessou foi adiante e viu mais fronteiras atravessou uma por uma só pelo desejo de ver onde iria parar por que nunca soube por que parar.

E depois de toda sua entrevista e de todos os horrores confessos João pergunta:

_ Quanto vale minha alma?

3 comentários:

Anônimo disse...

Marco, primeiramente parabéns pelo texto profundo e instigante. Mas, receio que eu vá fazer o papel de "advogado do diabo" (risos)...

Tu dizes:

"João sodomizou 17 crianças matou nove e o restante adquiriu o vírus do HIV (AIDS). João também era praticante de alguns atos canibais. Pense algumas crianças nunca se recuperarão dos seus traumas, assim como pais que almejavam um futuro para seus filhos estão agora inconsoláveis".

Esses atos estão entre as coisas mais deploráveis que um ser humano pode cometer, não resta a menor dúvida.

Entretanto, pensa comigo: esse "monstro" um dia deve ter sido uma vítima. Deve ter tido sua psiquê abalada por fatos que o desestabilizaram emocionalmente, muito provável de maneira permanente. Dessa forma, o "mostro" é ao mesmo tempo simbolicamente um dos garotinhos que tiveram a desgraça de cair em suas mãos. Quanto vale a alma do "monstro-garotinho"?

Continuando, tu afirmas que

"Hoje ele é estuprado, agredido e punido constantemente por todos os outros companheiros de presídio. Se isso é a justiça que lhe cabe não sei".

Eu te afirmo categóricamente que isso não só não é justiça (de espécie alguma), como também que a sua punição se iguala - se é que não extrapola - em maldade àquela dos seus próprios atos, fazendo dele, mais uma vez, ao mesmo tempo carrasco e vítima. Quanto vale a alma do "carrasco-vítima"?

Todavia, caro Marco, eu fico feliz de ver ser trazido à tona um tema tão complexo e indigesto.

Um abraço.

Marco Alcantara disse...

Isaias você capitou muito bem a essência do texto.

Só não capitou que eu queria instigar justamente este tipo de pensamento.

João relamente é uma vitima do sistema - termo cliche, mas necessário - ele foi abusado moralmente pelas proibições, pela falta de conselho, pela falta de grça e pelo excesso de religião.

Uma coisa que quero trazer a tona também é de que como estamos tratano a sexualidade dos jovens na igreja?!

Será que impomos coleiras neles ou os tratamos mediante a graça não imposta, mas bem-vinda?

Anônimo disse...

Marco, na minha modesta opinião, o maior dilema da Igreja na atualidade é a sexualidade do indivíduo pós-moderno.

A sociedade, desde as pessoas de faixa etária menor, está se encaminhando para uma aceitação crescente de outras variações da sexualidade humana que não apenas a orientação heterossexual.

A questão da sexualidade na Igreja e na sociedade sempre foi cercada por tabus e preconceitos, mas hoje o cerco se fecha com o ativismo de pessoas que querem ser respeitdas como são.

A Igreja não trata seriamente desta questão, é sempre aquela regrinha do "certo" e "errado", mas jamais se contempla as exeções das regras...

Um abraço, e seja sempre vem-vindo ao meu blog.

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