15 de ago. de 2011

A Descoberta de um Deus de Todos – Parte II



Nota: “Esta é mais uma parte da série de contos que estou escrevendo sobre a igreja e o cristinismo em geral e também sobre coisas e pessoas que rodeiam esse universo.”
 
- Parte I – Parte II

Domingo por volta das dezessete horas era sempre a mesma rotina quase como um ritual não celebrado, aquela ultima olhada no espelho para ver a gravata e o cabelo e de relance olha para baixo e sorri contente pelo lustre que conseguiu no seu sapato preto. Manoel sai em disparada pega sua bíblia e corre para igreja que fica a duas quadras de sua casa, ele não quer chegar atrasado para poder ter tempo de orar antes do culto começar, assim como faz costumeiramente desde que se tornou presbítero e principal auxiliar do pastor de sua congregação. 


Manoel tinha seus vinte e sete anos e vez ou outra em suas pregações dava seu testemunho sobre como encontrou Jesus nesta mesma igreja há doze anos e de como foi liberto das drogas.
Manoel reconhecia-se como um homem de fé e via na igreja a estrutura necessária e essencial para que as pessoas encontrassem Jesus, assim como também manifestassem seus dons ministeriais. Também acreditava que com a força da igreja como corpo de Cristo era possível mudar a situação social e espiritual de sua comunidade.

Apologista, cria que a bíblia era a palavra de Deus e que realmente ela servia para regrar a vida do crente e com essa premissa ele sempre estava disposto a combater heresias e orientar quem precisasse.
Após o culto ele esperava todas as pessoas que estavam no local saírem fazendo questão mostrar-se receptivo convidava a todos com um sorriso no rosto a voltarem no próximo culto.
Sem pressa começou a lembrar-se do dia em que conheceu Joaquim. Era verão e lembrou-se de ter sido padrinho de casamento de um amigo em comum dos dois, logo na festa fora apresentado a Joaquim e sua namorada Isabel.

Lembrou-se de ter simpatizado com o casal e como estava sozinho na festa e não conhecia ninguém além do noivo e o recém apresentado casal, então diante disso pediu para que compartilhassem a mesma mesa com ele.

- Eu sou evangélico e presbítero de uma igreja local – disse-lhes, Manoel com toda sua convicção.
- Nós não temos religião, apesar de que a Isabel trabalha em conjunto com um centro espírita numa obra social e às vezes ela vai a algumas reuniões onde se encontram médiuns e outras pessoas mais pró-ativas na doutrina espírita – disse Joaquim de forma mansa e despretensiosa.

Resignado e de olhos cerrados, Manoel encarou os dois pesando-os em sua balança moral e está balança tendeu ainda mais para o lado negativo quando soube que os dois viviam juntos em um pequeno apartamento não tão longe de sua igreja. E no desenrolar da conversa apegou-se na idéia de que Joaquim era mal influenciado por Isabel, ora uma espírita com um rapaz que teve uma educação evangélica é a mesma coisa que deixar o joio se enroscar no trigo até que o joio mate o trigo, concluiu. 

A língua apologética de Manoel coçava para sair da boca e dizer sobre culto aos mortos e de como aquela mulher queimaria no inferno. Mas se segurou por acreditar que ali não seria o local adequado para se iniciar uma discussão desse tipo. Imaginou que poderia marcar com o casal num lugar mais reservado e assim investir na alma dos dois, pois tinha fé que esse seria o seu dever e que se não fizesse isso no dia do juízo ele seria cobrado por essas almas.

- Gostei muito de vocês e quero convidá-los para ir a minha igreja o pastor me deu uma oportunidade para pregar no culto da mocidade – disse um Manoel amistoso.
- Faremos o possível para ir – prontamente respondeu Isabel. 

Durante a semana Manoel leu diversos estudos bíblicos sobre santidade entre casais e espiritismo e juntou vários versículos correndo sua leitura entre velho e novo testamento. Acredita que se estivesse fundamentado na palavra certamente após a pregação no apelo que faria os dois se arrependeriam, levantariam suas mãos e aceitariam a Jesus. Afinal a verdade que ele iria propor em sua pregação seria irresistível a qualquer um. 

No dia do culto seguiu-se o mesmo ritual não celebrado de todos os dias e chegando a sua igreja debruçou-se no grande púlpito. Manoel ficava atento e esperançoso de ver o casal adentrar o salão com bancos de madeira enfileirados, paredes azuis e lindas portas de vidro que isolavam o som dos cultos mais inflamados onde os irmãos exerciam toda a sua “pentecostalidade” .

O culto começou e o louvor seguiu seu andamento dirigido por seu ministro que acabará de pedir alguns améns e outros aleluias entre o pedido para que a igreja ficasse de pé, afinal era um culto de mocidade e os louvores eram bastante ritmados e requeriam acompanhamento com palmas.

Manoel sentado em uma cadeira de madeira centralizada no púlpito avistou Joaquim entrando na igreja sozinho e procurando um dos últimos lugares ao fundo. 

- Isabel realmente não quis estar aqui por que é espírita e também o maligno não permitiria perder uma serva sua, era uma batalha que travarei mais tarde, mas agora Joaquim parece estar disposto a se arrepender de seus pecados e hoje é o dia para isso – murmurou Manoel de força indecifrável, mas audível. 

Manoel pregou impiedosamente contra o pecado, contou sobre as obras malignas do diabo e seus seguidores tal como o espiritismo e ainda arrumou tempo para pregar sobre fornicação.

Ao fim de sua pregação e uma oração feita para que Deus estabelecesse sua palavra sobre todos ali estavam ele começou seu apelo e fitou seus olhos em seu alvo.

O apelo durou quinze minutos e nada de mãos estendidas, então ele decidiu ter uma conversa após o culto com Joaquim.

Término de culto e Manoel correu para alcançar Joaquim, a tradição de dizeres de paz e mão estendida com sorriso para todos os irmãos pós-culto fora quebrada.
Enfim, Manoel e Joaquim iniciaram seu dialogo.  

Continua …

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